São pequenas notas, textos concretos, versos complexos, poesias cotidianas e esperanças.

Nas últimas folhas do caderno verde...



Naquele dia, quase sonolenta, sentei-me a beirada da cama. Fitei meus olhos através do espelho e não me reconheci. Entre as luzes daquela manhã de outono, pela primeira vez refleti os cabelos em tons de cinza bem perto de outros tão branquinhos. Ao fechar os olhos por um instante, senti a suave brisa tocando as cortinas do velho quarto de dormir e pouco a pouco minha atenção se deixou levar pela sinfonia de passarinhos eufóricos e sedentos por mais um dia. Retornei ao reflexo de onde havia parado e ali os olhares novamente se cruzaram. Quantas lutas já lutadas, quantos sorrisos compartilhados, quantas lágrimas enxugadas. A mulher dentro daquela moldura tinha tantas histórias para contar, mas, naquele momento, era só o silêncio que se fazia presente. Mesmo assim, havia um certo frescor naquela imagem, havia sentimentos. Seus olhos brilhavam uma imperfeição perfeita e cada marca na pele gasta registrava um tempo. Dentro ainda residia a menina que por certo levava os sonhos que embalavam ideias e poemas da juventude de outrora. Dentro levava a força disfarçada de fragilidade. Dentro estava escrito: Alma. Uma lágrima correu sobre o rosto e a lembrança. Um toque delicado na porta de madeira talhada. O tempo tem seus presentes... Aproveite seu dia! 

*Nany Peres*